A necessária transição energética, que prevê a utilização de fontes de energia mais limpas e renováveis, impactará diretamente o setor de mineração, porque essa transição só será possível com a crescente utilização de minerais estratégicos. Carros elétricos, por exemplo, utilizam mais tipos de minerais que um veículo a combustão comum. Os ímãs de alta eficiência usados nas turbinas eólicas precisam de neodímio, elemento encontrado nas terras raras.
Sendo um dos maiores produtores mundiais de minérios, o Brasil vai se beneficiar com essa nova, gigantesca e mais sofisticada demanda. As projeções de investimentos no setor são grandiosas. O diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra, Joaquim Levy, prevê que até 2034 o Brasil pode atrair até R$ 2 trilhões (330 bilhões de euros) em investimentos ligados à transição energética e à exploração de minerais críticos. Segundo ele, pelo menos 30% desses valores serão oriundos de capital estrangeiro.
Ex-ministro da Fazenda brasileiro, Joaquim Levy participou, dia 5 de outubro, do Invest Mining Summit, na B3 (bolsa de valores de São Paulo), e disse que um investimento dessa magnitude nos setores de mineração e energia impulsionará o PIB brasileiro em 20%, gerando 3 milhões de novos empregos. Para que isso seja possível, ele advertiu, serão necessários a manutenção de uma política fiscal adequada e o bom uso das receitas adicionais geradas pelo crescimento. Receitas que, segundo ele, deveriam ser direcionadas para a infraestrutura.
Observadores do setor da mineração apontam que o crescimento é possível, mas que deve ser acompanhado de um marco regulatório com foco em aspectos ambientais que garantam a sustentabilidade das operações e, ao mesmo tempo, a competitividade internacional do setor.
Níquel e lítio em alta
Níquel e lítio são minerais-chave nesse contexto, essenciais para a fabricação de baterias de alta performance para automóveis elétricos, notebooks e smartphones. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que a demanda por lítio aumente 40 vezes até 2040, seguida pelo grafite, cobalto e níquel. Somente esses minerais apontam para um mercado potencial de US$ 10 trilhões. O Brasil possui 17% das reservas mundiais de níquel (e apenas 0,4% no lítio – embora, hoje, já seja o quinto maior produtor mundial desse mineral).
Reservas minerais brasileiras (2022)
MINÉRIO |
% MUNDIAL |
RESERVAS (103 T) |
Nióbio |
94,10% |
16.000 |
Tântalo |
28,60% |
40 |
Grafita Natural |
21,90% |
70.000 |
Manganês |
20,80% |
270.000 |
Minério de ferro |
18,90% |
34.000.000 |
Terras Raras |
17,50% |
21.000 |
Níquel |
16,80% |
16.000 |
Vermiculita |
14,10% |
6.600 |
Estanho |
8,60% |
420 |
Alumínio (Bauxita) |
8,40% |
2.700.000 |
Titânio |
6,10% |
43.000 |
Ouro |
4,40% |
2,4 |
Zircônio |
3,10% |
2.319 |
Fosfato |
2,30% |
1.600.000 |
Cobre |
1,60% |
11.212 |
Zinco |
1,10% |
2.464 |
Cobalto |
1,00% |
70 |
Tungstênio |
0,90% |
28 |
Prata |
0,70% |
3,8 |
Cromo |
0,50% |
2.451 |
Vanádio |
0,50% |
120 |
Lítio |
0,40% |
95 |
Carvão Mineral |
0,40% |
3.799.000 |
Potássio |
0,10% |
2.300 |
Fonte: Boletim do Setor Mineral (MME, 2022)
Investimentos já em aceleração
O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) já detectou a aceleração dos investimentos do setor. No Brasil, a mineração deverá investir US$ 64,5 bilhões entre 2024 e 2028, alta de 28,8% em relação ao período de 2023 a 2027, com foco na produção de minério de ferro de maior qualidade e em commodities ligadas à transição energética. “Não há como irmos para uma economia de baixo carbono sem passar pelos minerais críticos e, entre os mais críticos, o Brasil tem reservas de 15 deles”, afirma Raul Jungmann, diretor-presidente do Ibram.
Os estados de Minas Gerais e Pará lideram a intenção de investimentos, com 30,6% e 28%, respectivamente. A lista continua com Bahia (16,1%), seguida por Amazonas (5%), Goiás (4,2%), Ceará (3,1%), Rio de Janeiro (2,7%), Mato Grosso (2,4%) e Piauí (2,2%).
Ações socioambientais em alta
Depois dos desastres de Mariana (2015) e de Brumadinho (2019), cidades de Minas Gerais, as mineradoras incrementaram políticas de sustentabilidade. Segundo o Ibram, até 17% dos investimentos das mineradoras serão destinados a ações socioambientais (o que significa US$ 10,617 bilhões nos próximos quatro anos).
A principal ação é a eliminação de barragens a montante, como as que se romperam nos municípios mineiros. Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), há no país 53 barragens deste tipo. Todas serão substituídas por tecnologias mais seguras, como o empilhamento de rejeitos a seco. A Vale, maior mineradora de minério de ferro, vem expandindo a tecnologia de processamento de minério a seco, sem o uso de água e sem geração de rejeitos que requerem barragens. O método já é empregado em mais de 70% da produção — em 2014, a taxa era de 40%.
Outras ações incluem o reaproveitamento de água. A Mineração Morro do Ipê (minério de ferro em Minas) desde 2019 usa um sistema de filtragem de rejeitos, que depois são dispostos em pilhas, e a água retirada do material retorna para uso no processo industrial e em outras atividades. Em 2023, o índice de reaproveitamento de água na companhia bateu 83%, e o consumo de água nova foi de 160 litros por tonelada de minério processado, 19% a menos do que em 2022.
Estreia mundial de nova tecnologia
A Boston Metal do Brasil, de Coronel Xavier Chaves (MG), inaugurou em março de 2024 a primeira unidade mundial de extração de metais de alto valor como nióbio e tântalo a partir de rejeitos de mineração com o uso da tecnologia Eletrólise de Óxido Fundido (MOE, na sigla em inglês). Inserido na célula MOE, o rejeito é submetido a uma corrente elétrica de elevada amperagem, gerando altíssimas temperaturas que derretem o material. Os metais vazam pela parte inferior da célula com alto grau de pureza. O processo gera apenas oxigênio e por utilizar eletricidade de fonte renovável, a tecnologia MOE opera com baixa emissão de CO2.
A Boston Metal do Brasil prevê a produção de 720 toneladas de metais de alto valor em 2024. Até 2026 a capacidade será ampliada para até 10 mil toneladas/ano, com o que a empresa passará dos atuais 80 para 250 empregados.
Alumínio com energia renovável
Há projetos ligados ao alumínio, metal interessante do ponto de vista da sustentabilidade (é leve, durável e pode ser 100% reciclado diversas vezes, sem perder suas propriedades), tem grande demanda para a construção de painéis solares, veículos elétricos e linhas de transmissão de energia elétrica. A Alcoa, líder na produção de bauxita, alumina e alumínio, investiu R$ 3 bilhões no estado do Maranhão entre 2022 e 2024 para religar uma fábrica de alumínio com a compra de energia 100% renovável, num gasto de R$ 1 bilhão.
EXPOSIBRAM 2024: números recordes
O bom momento da mineração brasileira pôde ser medido na recente (Exposibram), a feira bianual da mineração, realizada entre 9 e 12 de setembro em Belo Horizonte. Foi a maior de todos os tempos em área (15 mil metros2), em número de expositores (650), em público (86 mil pessoas) e em conteúdo (600 horas de palestras, 320 palestrantes, 2.300 congressistas). Com representantes de 11 países (Brasil, Itália, Estados Unidos, China, Canadá, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Irlanda, Chile e Peru), foi também a mais internacional edição da feita até hoje.
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